PALAVRAS

As mesas estavam lotadas. Todas as pessoas acompanhadas e sorrindo, enquanto eu, estava sentada sozinha, esperando que meu acompanhante chegasse. Se bem que, eu não estava completamente sozinha, a taça de vinho repousada na minha frente estava sendo a minha acompanhante da noite. A cada gole, uma lembrança surgia em minha mente. 
No primeiro gole, lembrei do seu olhar. Penetrante e que marcou minha alma e o desejo entranhado em meu corpo. 
No segundo gole, lembrei das suas palavras. Doces, quentes, ardidas e provocantes, sejam em voz alta ou apenas reproduzidas num sussurro em meu ouvido. 
No terceiro gole, lembrei de seus toques. Beijos na bochecha sem inocência, seguradas na mão apenas para me deixar atenta, mas principalmente lembrei de seus beijos em meu pescoço e em meu ombro, suas puxadas pela cintura, pegadas em partes do meu corpo, que dão arrepio somente de lembrar. 
No quarto gole, notei que o vinho estava acabando, assim como a graça daquela noite e de tê-lo em meus dias. Tudo estava acabando. 
Toda a fantasia estava tendo seus últimos momentos. A fantasia de imagina-lo sendo meu por um momento. A fantasia de acreditar que poderia acontecer algo além de provocações. A fantasia de sair das palavras, sair da mente e se tornar uma realidade. 
Uma realidade que pegaria fogo. 
Quando dei o último gole, todas as lembranças vieram juntas, como um flashback enlouquecedor. Tudo havia sido apenas uma diversão, apenas palavras ditas sem ressentimento, apenas provocações como se fossemos adolescentes novamente. 
No último gole, o amargo veio a boca para acabar com a sensação adocicada e forte, após todos os goles anteriores.
Acabou. 
Um ponto final foi dado. 
A vontade continuou, o encontro realmente acabou. 
O que poderia ter sido uma aventura se tornou apenas história. Se tornou apenas palavras ditas ao vento, palavras escritas num velho papel e a memória erótica na mente de ambos. Acabou. 
Dentro de mim uma esperança ainda estava sendo cultivada, mas ao olhar a cadeira em minha frente, vazia, eu sabia que tudo fora apenas palavras. 
Eu não podia criar nada dentro de mim, eu não tinha o direito, mas ele também não tinha o direito de me provocar daquele jeito. No fim, eu não me importei.
Eu curti cada momento, curti cada brincadeira como se fossemos um do outro, como se não tivesse ninguém em volta. Eu falei o que tive vontade e ouvi exatamente o que eu queria. 
Engoli o resto do vinho da taça. Respirei fundo e sorri. 
Agradeci ao vento por todas aquelas memórias que serão eternizadas neste escrito.
Avistei ao longe um homem me encarando, eu sorri para ele e o chamei:
- Garçom, mais uma taça de vinho, por favor.


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